segunda-feira, 6 de agosto de 2012

things


Foste a minha primeira e última discussão à séria. Foste tu a primeira pessoa a quem dirigi o meu primeiro insulto e a primeira na minha vida a que eu direccionei alguma espécie de revolta. Iniciaste-me na agressão e nos puxões de cabelos. A primeira que eu roubei roupas às escondidas e alguma maquilhagem para me aperaltar e me sentir uma mulher. Tu, a rapariga que era e é inteligente, que gosta de aprender e dar lições de moral e é irritantemente reservada. Quem eu cheguei a odiar mais, por breves instantes.

 Foste a 1ª pessoa (depois da mãe) que dormiu a meu lado e quem me chamava forno porque eu era aconchegável e quente durante a noite. A primeira com quem eu cantei e comecei a atabalhoar palavras aleatórias em inglês, em frente ao televisor, enquanto passavam videoclips da mtv.
És a rapariga mais alta que conheço, mas também não te fico muito atrás. Foste a rapariga que me ensinou a mexer num computador e a ter medo da hipótese de haver bichos nas frutas e a abominar a fada do dente.
Foi contigo que eu andei de mota a primeira vez e foste tu que me tiraste o medo de entrar no mar da praia e mergulhar. Deste-me a experiência de ir a um concerto a primeira vez, ao cinema e ao teatro.
Foste aquela que queria aprender as coreografias que eu aprendia nas aulas de dança e que me dizia que quando tinha o braço esticado tinha uma ferida no lugar do cotovelo e eu acreditava e abraçava. Lembro-me do momento em que saíste de casa para ir ao baile de finalistas e que chorei porque achava que ias casar e abandonar-me.
Protegeste-me e ficavas em casa por minha causa, a fazer de ama-seca, devido à minha tenra idade. Foste quem viu a sua liberdade restringida devido à minha existência, e quando te mudaste deixaste-me um quarto encantador só para mim, com montes de espaço.
 Tens humor mais negro que conheço que alguma vez tomei conhecimento. Tens umas narinas a que dás um engraçado uso especialmente numa conversa séria, só para gozar. Inventas coreografias à atrasada mental. Sardenta, és a moça que tem mais sardas que eu conheço e o exemplo de uma mulher decidida, independente, forte.

Não foste a primeira a quem eu contei as coisas mais importantes nem a quem eu recorria prontamente para me refugiar dos problemas. Mas agora és aquela amiga a quem eu não tenho de explicar nada, que me compreende sem grandes justificações e és o meu suporte ambulante. Contigo posso estar em silêncio, isenta da necessidade estar sempre a proferir alguma palavra. Estou à vontade contigo para tudo porque és muito de mim e há coisas que não dão para separar. Seria curioso se voltasses a morar connosco, porém, se tal acontecesse, não estaria a reconhecer tanto o teu valor. Quando te chamo ou a ti me dirijo  é por "irmã" (nada de mana e lamechismos) , apenas "irmã" como que a uma feira da mesma congregação. Eu devo-te muito.
Até te amo, minha estúpida.


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