sexta-feira, 15 de março de 2013

folhas

Admira-me a imprevisibilidade das pessoas. As pessoas são tão complexas e nunca estão em sintonia com a complexidade do seu semelhante. Erguem castelos de dúvidas e inseguranças sem se aperceberem do sinal mais próximo da queda desse castelo dentro de alguém que amam. Intriga-me como nem nós nos conseguimos comandar, por vezes e como a nossa paciência e amabilidade se esvai quando alguém roça nas nossas feridas por cicatrizar.

A vida é como um livro. Somos um livro que nem todos podem ler, e o mais sábio dos livros seríamos se nos conseguíssemos auto-compreender. Como na leitura de um livro, para manteres a lucidez, por vezes tens de te relembrar de como foste, de como és e de como serás nas páginas seguintes. Somos senhores de palavras impossíveis de apagar mas fáceis de deixar uma cópia nos outros. Nascemos como quando o livro nasce, impressão e o encadernamento, somos categorizados e exalamos vida e curiosidade. Crescemos sendo comparados a outros, e a sucessores, e a continuações de gerações.
Absorvemos a dor e a mágoa de quem connosco convive. Modelamos sentimentos conforme respondemos ou não ao que as pessoas anseiam de nós, como um livro que lemos quando esperamos que o conto se desenrole como o planeado na nossa cabeça, mas por vezes não é assim. Como um livro, somos imprevisíveis e chocamos, crescemos e deixamos a história morrer e voltar a viver dependendo com quem nos relacionamos.
Temos páginas marcantes da vida que os falsos naturalmente desistirão de ler. A uma dada altura seremos deixados por nossa conta, e o pó atrasar-nos-á o manuseamento. A dada altura morremos quando deixamos de ter leitores, quando deixamos de partilhar o nosso conteúdo ou quando somos tão maus e desvalorizados que ninguém se importa connosco desiste de nos acompanhar. Fechamo-nos. Fechamo-nos porque já vivemos tudo e já demos às pessoas da nossa vida tudo o que tivemos a dar.