domingo, 7 de outubro de 2012

desmistificação

Vozes difundidas no anonimato já se certificaram de me expressar os seus juízos relativamente ao Teatro. Juízos esses que se caracterizam por espécies de rumores por terem sido partilhados por emissores que nem sequer ousaram passar pela experiência de fazer Teatro antes de proferir coisas como "O teatro é um fingimento"  ou "os actores são pessoas que ganham a vida a fazer macacadas imitando os comportamentos humanos e não deviam ter tanto mérito"/"fazer teatro é fácil porque é só imitar e forçar comportamentos, trata de sermos os melhores fingidores" e todas as observações cuja conotação é semelhante.


Fingimento, oh, se não é algo já tão familiar no nosso dia-a-dia? Que mais fazemos senão fingir, que mais somos senão actores sociais cingidos às regras do civismo e contribuidores do bem comum? Fingimos cordialidade, fingimos doenças para faltar a compromissos, possivelmente já fingimos estar chateados com alguém ou até que já nutrimos pena por algo que não sentíamos. Fingimos um sorriso no rosto aquando vivenciamos a exaltação e a pressa do começo do dia para seguirmos ao nosso destino. Fingimos que não temos fome para não incomodar que tanto nos oferece alimento e que não estamos tristes só para não contagiar nem dar preocupações. Fingimos a força de vontade, fingimos a existência de uma boa auto-estima, fingimos ter maior ou menor grau de inteligência e até fingimos ter alguma piada para não aparentarmos desinteressantes e monocórdicos.
Porque a vida é feita do "finge aqui, disfarça ali". Inatamente, se de vez em quando não puxares pelo teu lado menos verdadeiro e mais forçado não te restam grandes hipóteses. 
Fingimos tanto que não é por isso que deixamos de viver os fingimentos. E ainda dizem que os actores é que são os fingidores. E nada não podia ser tão humano e ao mesmo tempo anti-fingidor como o teatro. Mais honesto que a vida porque sabes sempre o que vem a seguir de qualquer acto.
Teatro? Para actuar, de fingir não preciso, do sentir é que faço teatro, através das vivências aprendidas com os fingimentos da minha vida. No teatro dou de mim para dar aos outros. Transmito, através de personagens, um pouco de mim. Do tudo, fundo-me num só... Abraço complexidades e várias personalidades e liberto-me dos meus recalcamentos alcançados através destas grandes mentiras que vivemos no dia-a-dia, mas que não temos pudor em viver no palco, sob outra pele. São capazes de ver mais de mim no teatro do que em qualquer outro lugar. Garanto que encontrarão mais humanidade a assistir a um espectáculo teatral do que no quotidiano.

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